Tendência Natural 

Formulações 

 

 

 

Tendência Natural

 

     Buscamos viver de forma sustentável em níveis variados, estimulados pelos impactos positivos da adesão a hábitos saudáveis e pela crescente conscientização sobre a preservação do meio ambiente. Essa postura influencia opções de consumo – como a escolha de cosméticos naturais, orgânicos e veganos. A demanda nesses segmentos impulsiona um mercado no qual é preciso equacionar o respeito a regras específicas, a performance dos produtos e as expectativas do consumidor.

     De acordo com a pesquisa “A percepção dos consumidores brasileiros sobre cosméticos sustentáveis”, realizada pelo portal Use Orgânico, 82,5% dos entrevistados consideram a qualidade dos produtos de beleza e higiene tão importante quanto a dos alimentos que compõem a sua dieta. O estudo, que consultou 1.517 consumidores de todas as regiões do país, aponta que 47% das pessoas ouvidas afirmam que, para ter um estilo de vida saudável, é preciso investir em um cardápio balanceado e em produtos que priorizem ingredientes naturais. Para 55%, produtos orgânicos são melhores que os convencionais.

ET42_03.jpg     No entanto, a pesquisa também mostra um déficit de informação entre os entrevistados: 60% acreditam que os produtos industrializados não podem ser considerados orgânicos, e 46% não sabem detectar as diferenças entre um produto natural e um orgânico. Esta e outras pesquisas demonstram o aumento do interesse dos brasileiros por produtos naturais, orgânicos e veganos – bem como a carência de informações para orientar suas escolhas.

     A edição 2018 do Kantar Talks, evento anual realizado pela Kantar para debater insights sobre determinados mercados, foi voltada ao setor cosmético. O estudo “Beauty & Care na Terceira Era do Consumo” indica que os produtos de nicho, a autenticidade nas propostas e a credibilidade ganham cada vez mais relevância na jornada de compra no setor. “Há oportunidades para todas as marcas que entenderem a evolução tecnológica, as mudanças comportamentais em curso e, principalmente, o impacto disso tudo no mercado de beleza. As formulações naturais e a atuação ética da empresa passam a ter mais relevância no momento da compra do que os benefícios funcionais, por exemplo”, afirma o estudo da Kantar.
 

 

     Globalmente, o mercado de cosméticos veganos foi estimado em US$ 12,9 bilhões pela consultoria norte-americana Grand View Research (dados de 2017). Segundo a consultoria, o mercado mundial de cosméticos naturais e orgânicos deverá chegar a US$ 25,11 bilhões até 2025.

 

Formulações

 

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     No desenvolvimento de cosméticos naturais e orgânicos, a restrição a ingredientes sintéticos ou a processos de fabricação de matérias-primas torna mais difícil a formulação de alguns produtos. “A indústria vem avançando, ano a ano, na oferta de novas tecnologias. Fabricantes de cosméticos precisam buscar novas oportunidades o tempo todo”, aponta Vinicius Bim, especialista em Inovação para Cuidados Pessoais da BASF América do Sul. “Cada tipo de produto tem suas especificidades. No entanto, formulações veganas são mais simples, pois permitem o uso de ingredientes sintéticos”, completa.

   

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  “Para ingredientes naturais, é importante que o formulador tenha o conceito correto sobre a origem das matérias-primas, pois isso abre um leque de opções que viabiliza a busca por ingredientes que não comprometam o desempenho do produto”, diz Cássia Picirili, gerente de vendas da Wacker. “Podemos citar como exemplo os silicones, produtos de fontes naturais que têm famílias e características distintas. Eles são capazes de ajudar o formulador a encontrar a tecnologia correta para o benefício e o desempenho desejado”, menciona.

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     Rodrigo Fuscelli Pytel, gerente comercial da Mapric, ressalta que, nos últimos anos, tem sido um grande desafio para a indústria de insumos e ativos cosméticos “instrumentalizar o formulador com ferramentas que lhe permitam formular um produto com ingredientes 100% naturais, ou seja, obtidos a partir de processos físicos ou de fermentação, sem modificações químicas clássicas”.

     Ele acrescenta que, em face do desenvolvimento da ciência de ingredientes naturais, “não basta informar a origem de um ingrediente ou relatar a rastreabilidade de sua cadeia de fornecimento. É preciso construir dossiês com a descrição detalhada de mecanismos de ação e benefícios que a incorporação do ingrediente trará. Dentro desse universo, fazer chegar ao consumidor final um produto natural e com custo alinhado aos demais da mesma categoria de mercado ainda é um importante desafio aos formuladores”.

 

     A formulação de produtos orgânicos precisa atender a critérios rígidos, bem como as plantas de produção e as cadeias de fornecimento de matérias-primas, “que devem ser certificadas a partir de requisitos que podem variar em aspectos secundários, de acordo com o órgão certificador, mas que na essência buscam o mesmo: a obtenção de insumos e produtos dentro de padrões sustentáveis”, afirma Pytel.

     Dentre os aspectos desafiadores desse mercado, ele também menciona a ampliação da entrega de benefícios de cosméticos naturais para além de um nicho de consumo. “Para vencer essa dificuldade, muitos fabricantes têm apostado na presença de um ou mais ingredientes naturais, veganos ou orgânicos nas formulações, a partir dos quais se constrói a comunicação mercadológica desses produtos”, aponta. “É importante ressaltar que há vários graus de certificação para produtos orgânicos em certificadoras internacionais. Dessa forma, uma companhia pode decidir pela construção de produtos 100% ou 80% orgânicos”, completa.

ET42_12.jpg     Juliana Flor, gerente técnica regional (Latam) da DSM, ressalta que os custos das matérias-primas de origem natural normalmente são maiores que os das sintéticas: “estima-se que ocorra aumento de 50% ou mais no custo de fabricação”.

     Ela também comenta aspectos referentes à conservação microbiológica. “O uso dos conservantes sintéticos usados tradicionalmente no mercado, como fenoxietanol, DMDM hidantoína, metilcloroisotiazolinona e metilisotiazolinona, é proibido em produtos naturais certificados. Os conservantes aprovados pelos principais órgãos reguladores - como benzoato de sódio e sorbato de potássio - apresentam especificidades que devem ser consideradas, como o pH final da formulação”, afirma.

     No que se refere à performance dos produtos, Juliana destaca que há várias opções de matérias-primas aprovadas pelos principais órgãos reguladores, como emulsionantes, emolientes e doadores de viscosidade. “Dessa forma, é possível desenvolver produtos naturais para a pele que são tão eficientes quanto os produtos obtidos com matérias-primas de origem sintética”, diz.

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     Para Catherine Fabbron, gerente de aplicação da AQIA, na categoria de surfactantes “o mercado ainda é muito movido a preço e performance. Portanto, a dificuldade está em encontrar um produto com o desempenho dos surfactantes aniônicos. Já na categoria de emolientes, temos mais opções de ingredientes naturais que apresentam boa performance, principalmente em skincare”.

     No segmento de produtos capilares, grande parte das matérias-primas normalmente utilizadas pelo mercado é de origem sintética. “Essas matérias-primas não são, portanto, aprovadas pelos órgãos certificadores. Sendo assim, tanto o desembaraço quanto o condicionamento dessas formulações são prejudicados”, comenta Juliana, da DSM.

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     Fernando Malanconi Teixeira, supervisor de vendas da Divisão Beleza & Saúde da Química  Anastácio, observa que, apesar dos avanços da indústria em relação às composições naturais e orgânicas, “ainda há diferenças, sobretudo em formulações orgânicas. Por se tratar de matérias-primas não refinadas, quando comparadas com ingredientes convencionais, muitas vezes observa-se alteração de odor e, principalmente, de cor”.

     No que diz respeito aos testes de segurança e eficácia, Adriano Pinheiro, presidente do grupo Kosmoscience,ET42_13.jpg explica que todos os protocolos de ensaios clínicos em seres humanos, assim como os protocolos de estudos que utilizam substratos sintéticos in vitro, são aplicáveis para produtos naturais, orgânicos e veganos. “Não há distinção de protocolos considerando a fase de produto final ao consumidor final. No entanto, se o projeto de desenvolvimento estiver na fase pré-clínica, haverá algumas distinções em relação aos estudos in vitro realizados em cultura celular”, diz.

     Os métodos in vitro para a avaliação de eficácia e segurança pré-clínica são ensaios alternativos ao uso de animais que utilizam como sistema-teste culturas de células e tecidos humanos. “Mesmo com todos os esforços, nestes ensaios ainda são usados insumos de origem animal, como o soro fetal bovino, que é um suplemento amplamente utilizado em meios de cultura”, comenta.

     Ele aponta que avanços tecnológicos têm buscado substituir o soro de origem animal por um suplemento sintético. “Neste sentido, a pesquisa brasileira já recebeu prêmios internacionais com estudos de adaptação de ensaios utilizando meios alternativos que não precisam do soro bovino. Existe também a possibilidade da utilização de soro de origem humana, que já está bem disseminada na Europa”, afirma.

     O químico destaca que a substituição completa de insumos de origem animal é um desafio a ser enfrentado “principalmente quando nos referimos a ensaios de segurança nos quais as metodologias aplicadas seguem diretrizes de órgãos reguladores, como a OECD e a ISO. Nestes ensaios, é necessário utilizar estritamente os insumos e linhagem celulares descritos nos guias, que muitas vezes são provenientes de animais. Portanto, é preciso dedicar esforços na revalidação desses métodos, utilizando insumos que não tenham origem animal”, acrescenta.

     Atualmente, a Kosmoscience atende a demanda por produtos veganos fazendo adaptações nos ensaios e substituindo os itens que são de fonte animal por outros de origem humana ou sintética. Pinheiro assegura que, uma vez aprovados pela Anvisa, cosméticos naturais e orgânicos apresentam os mesmos níveis de segurança de produtos sintéticos. “No quesito efi cácia, dependendo do tipo de cosmético, pode haver limitação de uso de matérias-primas. Por essa razão, o produto pode não apresentar os mesmos níveis de performance”, afirma.

Fonte: https://cosmetoguia.com.br/article/read/area/IND/id/58/?utm_term=O Mercado da Beleza - Ano 1 NAo 7 de 9 de setembro de 2020&utm_campaign=Assinantes da Versao Digital da revista Cosmetics %26 Toiletries Brasil&utm_source=e-goi&utm_medium=email

Edição Temática Digital - Junho de 2019 - Nº 42 - Ano 14
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